quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Idosos cobram agilidade em processos judiciais

Há 25 anos, Samuel Burlamaqui trabalha como defensor público. Seu trabalho é prestar assistência jurídica integral e gratuita às pessoas que não podem pagar pelos serviços de um advogado. E há pouco mais de seis anos ele dedica esta ajuda especificamente aos maiores de 60 anos que se vão até o Juizado do Idoso em Belém.
Com uma procura crescente a cada ano, o juizado, localizado no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), se tornou um dos recordistas em volume processual. “Há dias com mais de 20 audiências, somando as duas varas”, cita o defensor. A maioria dos idosos que procura o local chega sozinho, sem família. Em geral, são pessoas humildes, de baixa renda, pouco instruídas e com certa dificuldade em relatar a sua situação. 
O acesso à Justiça pelos mais velhos é o tema dessa nova matéria da série ‘Agente do Bem’ -publicações especiais que o Projeto Orgulho de Ser do Pará veiculará ao longo de 45 dias no jornal DIÁRIO DO PARÁ e na RBATV. Ao todo, são 24 matérias tratando do universo da terceira idade e também das pessoas com deficiência no Estado, enfocando contextos de urbanidade e ações positivas de personagens inspiradores e agentes que promovem a inclusão e o acesso aos direitos e à cidadania. O objetivo é engajar mais paraenses em ações que construam cidades melhores, combatendo problemas que estão ao alcance de todos, muito além da ação do poder público. Com isso, o Grupo RBA abre uma campanha para formar um exército de ‘Agentes do Bem’ que ajude a transformar o Pará e suas cidades.
Demandas
“Na questão cível, as principais demandas são em relação ao direito do consumidor, problemas com empréstimos e planos de saúde. Assuntos criminais não são tão comuns, mas quando ocorrem são relativos a pequenos delitos, já que o juizado atende causas até 40 salários mínimos”, explica Samuel Burlamaqui. 
Tal demanda fez com que o sistema do juizado fosse digitalizado e ampliado, tornando-se mais ágil. Estudantes da UFPA também atuam no espaço, através de estágios e do Núcleo de Prática Jurídicas. Segundo o defensor, em primeira instância, quando é proferida a sentença do juiz, o julgamento ocorre, em média, em até três meses. “O idoso relata o fato, o processo é aberto e ele já sai com a data da audiência marcada”, afirma. 
Sentimentos de satisfação e frustração fazem parte da rotina, mas Samuel garante que a sensação maior é de um bom trabalho realizado, principalmente quando ele recebe de volta o sorriso de quem já estava perdendo as esperanças. “Acredito que a relação da sociedade com as pessoas mais velhas tem melhorado, mas ainda falta divulgação dos direitos, do próprio Estatuto do Idoso. Por isso gosto de atuar com os idosos. Em alguns anos vou me aposentar e também serei um deles. Já estou aprendendo”, brinca. 
Direitos
Segundo o artigo 71 do Estatuto do Idoso, as pessoas com mais de 60 anos devem ter prioridade na tramitação, em qualquer instância, processos, procedimentos e execução de atos e diligências judiciais. “Essa prioridade se estende a processos e procedimentos da Administração Pública, empresas prestadoras de serviços públicos e instituições financeiras”, diz o estatuto. 
Outra entidade que vem colaborando para facilitar o acesso dos mais velhos à Justiça é a Ordem dos Advogados do Brasil no Pará, que desde janeiro deste ano retomou as atividades da Comissão de Defesa do Direito dos Idosos. Presidido pelo advogado Antonio Miranda, o grupo tem como objetivo melhorar a dignidade dos mais velhos, garantindo a efetivação de seus direitos. 
“Sentimos a necessidade de fortalecer a luta contra os crimes que atingiam os idosos, desde maus-tratos e violência até situações de discriminação e preconceito. Também analisamos como sociedade, família e poder público têm cumprido seus deveres em relação a eles, que infelizmente ainda desconhecem boa parte de seu amparo legal. Queremos a aplicação do estatuto em sua totalidade. Houve um avanço grande na legislação, mas ainda não vemos o mesmo na prática do dia a dia”, avalia. 
A OAB recebe as reclamações e as repassa às autoridades competentes, seja o MP ou a Delegacia do Idoso. Além disso, a comissão luta pelos direitos de advogados idosos, que também têm preferência no atendimento em Varas e Tribunais. “É preciso mudar a forma de encarar o idoso. A discriminação só mudará através da informação. As pessoas precisam saber que todos esses crimes têm punição e são mais fiscalizados atualmente”, afirma. 
Determinação
Na mesma luta por mudanças está a Federação dos Aposentados e Pensionistas do Pará. Composta por centenas de membros, a entidade contabiliza também diversos relatos de brigas judiciais em busca da reparação de direitos negados aos idosos. 
José Alves e Adão Melquíades têm uma ação desde 2008. Eles requerem a equiparação do reajuste financeiro dados aos funcionários ativos com o aumento direcionado aos aposentados, conforme previsto em contrato de trabalho com a empresa. Durante três anos consecutivos, de 2005 a 2008, a empresa onde eles trabalharam reajustou o salário de ativos e aposentados de forma desigual. Para os trabalhadores ela concedeu um acréscimo de 5% sob a denominação de “nível”, o que significa uma promoção, um aumento por merecimento. “Foi uma forma de burlar o nosso acordo, pois ela promoveu todos os funcionários ativos e nós, aposentados, ficamos sem o benefício”, diz. 
Os colegas de trabalho acionaram, então, o sindicato da categoria e entraram na Justiça requerendo equiparação do salário. Após cinco anos em tramitação, eles reclamam da demora no Judiciário. “Deveríamos ter prioridade no processo, mas isso não ocorre. As empresas aproveitam recursos, embargos, apelações e protelam o caso. Temos uma idade avançada, isso precisa ser levado em conta. Vários colegas nosso faleceram antes de ver a ação executada”, diz Melquíades. 
Aos 73 anos, Zé, como é conhecido entre os amigos, lembra que já está acima da média de longevidade da população brasileira e espera um final de vida mais digno e igualitário. “Cumprimos nosso papel de colaboradores com o governo e agora queremos aproveitar a família, os amigos. Nosso pedido é simples. Queremos apenas ser tratados como iguais, com respeito e sem discriminação”, comenta.
Depois do desabafo, ele levanta tranquilo e segue, em andar cadenciado, ao encontro dos demais companheiros de jornada. Olha os que se entretêm jogando dominó, cumprimenta o grupo que discute as notícias do jornal, conversa rapidamente com as colegas que também acabam de chegar à sede da federação. Zé se acomoda numa cadeira e sorri, pronto para esquecer um pouco os problemas e se divertir.

Fonte: (Diário do Pará)

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